A crônica Persona¹ transfigura um método para se ser sem exposições. Esse é, talvez, o melhor meio de desviar-se do caminho da desilusão: esconder-se através de uma máscara que retire seu coração da vitrine.
" Mesmo sem ser atriz nem ter pertencido ao teatro grego - uso uma máscara.Aquela mesma que nos partos de adolescência se escolhe para não se ficar desnudo para o resto da luta.
Não, não é que se faça mal em deixar o próprio rosto exposto à sensibilidade. Mas é que esse rosto que estava nu poderia, ao ferir-se, fechar-se sozinho em súbita máscara involuntária e terrível. É pois, menos perigoso escolher sozinho ser uma pessoa. Escolher a própria máscara é o primeiro gesto voluntário humano. E solitário."
¹ Clarice na cabeceira: crônicas / Clarice Lispector; organização de Tereza Monteiro. pp. 125 -129. RJ, Rocco, 2010.
Esse trecho também se encontra em "UMA APRENDIZAGEM ou O LIVRO DOS PRAZERES". É, realmente, bárbaro o jeito "simples" como Clarice expressa o mais profundo de sua alma e, mais bárbaro ainda, o jeito como nós, seus leitores, nos encontramos e reencontramos em sua escrita, que diversas vezes - arrisco até um "sempre" - nos decifra os mistérios de nossos sentimentos, aqueles que não conseguimos entender. Clarice transcende o cotidiano retratado em seus textos, nos fazendo chegar ao intangível.
ResponderExcluirBárbaro, Flávia! Obrigada por compartilhar esses textos e suas impressões tão singulares à respeito de cada um deles. =)